O relato de quem escolheu mostrar a paixão por outra mulher sem máscaras: pra família, pro mundo
Me apaixonei duas vezes ano passado: por ela, Juliana, e por mim. Chegar aqui e escrever isso não foi fácil ou tranquilo. Foi bom. Sempre namorei com homens. Um namorado depois do outro. Nesse meio tempo beijei outras mulheres. E tudo bem. Só batia a dúvida volta e meia. Achei que era lésbica, jurei ser hétero, acontece que não era nenhum. Era invisível. Ainda que cada vez menos. Afinal, estou aqui, contando minha história.
Gostaria que esse texto ajudasse você que está lendo. E muita gente. Bissexual ou não. Porque parece ser uma orientação que não existe, só quando alguém se declara. E, ainda assim, é preciso explicar: não, não mudei de ideia. Também não fui convertida por uma pessoa. Nem estava me escondendo – apesar de que tive que me perguntar inúmeras vezes se deveria fazer isso: na rua, com a família e colegas de trabalho.
Mas meu primeiro impulso foi o contrário: mostrar, tanto quanto era com os outros relacionamentos. Foi assim que aprendi. Não conseguia sentir exatamente medo. Muito menos queria privações. Do tipo andar na rua ou dançar tranquila em festas. Até me jogar nesses amores que são infinitos. Pra mim, mulher tem um ponto nisso. É a mesma natureza. Ou o encaixe certinho é com a Juliana. Não sei certo. Mas sei que parei de caber em mim.
E aí foi hora de trazer a família pra roda. Sou do tipo que precisa ver todo mundo reunido em volta da mesa se sujando de molho branco. Então falei com meu pai. Minha mãe soube antes. Ele disse que ia me amar de todo jeito. Mas o processo foi mais longo que isso. Foram meses para ele saber e mais de meio ano até se conhecerem. Depois, me senti com menos dois bois nos ombros. Dia desses ele até mandou um abraço pra ela no telefone.
Antes disso, tive que desencanar em agradar eles. Aliás, a todo mundo. O que me deu uma ajuda no amor próprio. Acho que são dois passos importantes para isso: ser você e não depender de ninguém. Por isso, vejo que ganhei dois amores de uma só vez.
Amo a Juliana. O cafuné na série. A risada dela que forma três rugas no nariz. O jeito que cola lantejoulas. Como me ensina. Todas voltas do seu cabelo. Seu carinho pela xícaras. Amo estar com ela, mas não preciso. Eu quero. E assim que consigo manter um relacionamento com ela e com meu outro amor: eu mesma.
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Karla Wunsch é comunicadora formada pela PUCRS. Trabalha como produtora de conteúdo desde 2012. Fala sobre tudo, especialmente música. Por esse amor também virou DJ residente da festa Rebel, Rebel. Escreve mais em cadernos do que na internet, mas ainda tenta manter o Twitter e o Medium. Atualmente mora em Porto Alegre onde cria artes e nóias. medium.com/@karlawunsch