É isso mesmo, você não precisa amar o seu corpo e nem ceder às pressões para isso. Entenda.
Hoje o corpo feminino é (continua sendo?) um dos maiores alvos de discussões e opiniões da sociedade. Depois de séculos ouvindo que o formato do nosso corpo nos aprovava ou desaprovava como mulher, e que nossos papéis sociais dependiam muitas vezes do nosso tamanho/forma, finalmente estamos caminhando para um lugar em que (talvez) não sejamos definidas pelo corpo que temos ou preferimos ter.
Esse longo caminho vem sendo pavimentado pelos movimentos em prol da autoestima e pelas campanhas de body positity (positividade do corpo), em que somos convocadas a olhar para o nosso corpo de uma forma mais gentil para aprender a amá-lo do jeitinho que ele é: gordo, magro, com culote, com peitão, de braço gordo, sem cintura e todas as características que antes aprendemos que deveríamos corrigir ou esconder.

Tudo isso faria muito sentido e seria plenamente possível se nós e nossos corpos não estivessem inseridos em um contexto social que, mesmo com nossos maiores esforços, ainda é opressor. Não há como descolar completamente o que somos da sociedade em que vivemos. Quem “decide” o que é bonito e o que é aceitável dentro de um contexto social não é o indivíduo, e sim uma conjunção de fatores complexos que vão desde a organização de classes até ativos da indústria de beleza.
Falando em indústria de beleza, é importantíssimo estar atenta à apropriação do discurso de body positivity por parte das marcas. Mesmo que as marcas de beleza estejam vendendo a ideia de que todos os corpos são lindos e estarem se esforçando para que mulheres diferentes se sintam representadas, elas estão sempre divulgando a ideia de você deveria “ser apenas uma melhor versão de si mesma”. Não se engane. Esse não é um discurso empoderador. O que elas estão dizendo é que você provavelmente não é boa o suficiente, nem para os próprios padrões.
Estamos em um momento em que precisamos parar de colocar tanta pressão sobre nossos corpos, mas obviamente não é do interesse de qualquer indústria que estejamos satisfeitas conosco. Então, aceitamos a ideia confusa de que autoestima é aceitar o próprio corpo, mas não sem antes fazer aquela última correçãozinha para então ficarmos satisfeitas – num ciclo interminável de pequenas alterações e eternamente querendo esconder “defeitinhos”. Quem nunca disse algo como “eu vou conseguir aceitar meu corpo assim que emagrecer/tonificar/tirar as celulites/remover estrias/diminuir meus poros”?

A ideia de busca pela autoestima através da melhoria do corpo, acaba sendo espalhada como um ato puramente libertador, quando na verdade apenas continua reforçando uma opressão social básica: a de que toda mulher deve ser, antes de tudo, linda. A felicidade parece estar guardada na plenitude da beleza física, seja ela qual for. E no centro de toda essa falácia estão nossos corpos e a eterna busca para que eles sejam admirados, mesmo que estejam fora do padrãozinho social.
Uma coisa é certa: aceitar o nosso corpo e parar direcionar esforços sem fim para que ele se aproxime de um padrão impossível é libertador. Mas é um processo. Um processo que passa por muitas etapas de auto conhecimento e auto compreensão para chegar à simples aceitação – e é tudo bem se nunca chegar no plano do amor. Porque a verdade é que você não precisar amar o seu corpo e muito menos provar ao mundo esse amor. Você só precisa entendê-lo, senti-lo, ouvir os sinais que ele te manda, saber como usá-lo dentro dos seus limites e desejos e cuidar dele da melhor forma.